Lembrai-vos

Lembrai-vos
Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amen.

14 Feb 2012

Encarando a verdade nua e crua da confusão no Vaticano.

Por John L Allen Jr, Roma, 13 de fevereiro de 2012 | Tradução: Fratres in Unum.com
Fevereiro de 2012: inverno gelado no Vaticano.
Fevereiro de 2012: inverno gelado no Vaticano.
Um consistório, evento no qual o Papa cria novos cardeais, deveria ter um ar festivo. Os novos cardeais trazem a família, amigos e benfeitores a Roma, para ver os pontos turísticos e aproveitar a companhia uns dos outros. A tarde do consistório é o único momento em que as portas do Palácio Apostólico estão escancaradas ao público em geral, dando ao lugar um ambiente de confraternização.

Nesta semana, entretanto, será difícil simplesmente deixar as coisas boas acontecerem, pois o Vaticano, recebendo os 22 novos cardeais que Bento XVI criará no sábado, mais uma vez se parece com a turma que não pode agir honestamente.
Vejamos as manchetes que dominaram a imprensa italiana, que ecoa por todo o mundo, só nas últimas 72 horas:
“Complô contra o Papa: morto em 12 meses”
“O Papa está isolado no meio da guerra no Vaticano”
“Lavagem de dinheiro, padres investigados: o silêncio do Vaticano”
“Gays, escândalos e até maçonaria: a Igreja teme garganta profunda”
Desde 2009, em uma controvérsia criada pela decisão do Papa de levantar as excomunhões de quatro bispos tradicionalistas, incluindo um negador do holocausto, o Vaticano não era apanhado por uma onda de escândalo tão intensa — unido ao inevitável apontar de dedo, tanto pública como privada, sobre quem culpar.
Antes de prosseguir, vamos esclarecer dois pontos.
Primeiro, um pouco disso é o habitual melodrama italiano, que não deve necessariamente ser levado a sério. A especulação sobre tramas maquiavélicas é um esporte caseiro favorito na Itália, em qualquer estilo de vida. Vai desde política, negócios, até esportes, e nos últimos dias tem sido apenas a vez do Vaticano.
Segundo, há pouca atmosfera de crise dentro do próprio Vaticano. Quando você anda pelos escritórios do Vaticano, encontra pessoas indo tranquilamente para os seus afazeres. Estão cientes da tempestade se formando sobre eles, e muitos estão preocupados sobre o que tudo isso significa, mas não é como se houvesse pânico no ar.
Dito isso, a confusão atual simplesmente não pode ser descartada por uma razão chave: debaixo de tudo isso estão documentos verdadeiros do Vaticano, vazados por pessoas de dentro que sabiam muito bem que influência teriam. Esta “guerra de fotocópias”, como batizou um comentarista italiano, é então o último sinal de que tudo não está bem no governo interno do Vaticano.
Vamos brevemente rever os acontecimentos recentes.
Primeiro veio a revelação de cartas privadas escritas em 2011 pelo arcebispo italiano Carlo Maria Viganò ao Papa Bento XVI e ao Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone. Nelas, Viganò se queixava da corrupção e camaradagem nas finanças do Vaticano, e de uma campanha interna de difamação contra ele e suas reformas.
Hoje núncio, ou embaixador, papal nos Estados Unidos, Viganò era, então, o oficial número dois no Governo do Estado da Cidade do Vaticano.
Enfaticamente, Viganò dá nomes, nessas correspondências, dos que supostamente o perseguiam. Seus vilões incluíam Monsenhor Paolo Nicolini, nos museus do Vaticano, e um bem articulado consultor leigo chamado Marco Simeon, que, conforme o relatado, é próximo de Bertone. O tom das cartas é no mínimo explosivo; Viganò, por exemplo, acusou Nicolini de “vulgaridade de comportamento e linguagem” nos museus do Vaticano, junto com “arrogância e presunção para com seus colegas de trabalho”, para não citar várias transações financeiras obscuras.
No momento, os jornais italianos estão cheios de pistas de que Viganò poderia voltar a Roma, pronto para expor todo tipo de outras roupas sujas do Vaticano. (Esta é a referência a “gays, escândalos e maçonaria” na manchete citada acima.)
Logo após, veio uma série de acusações dirigidas ao Instituto para as Obras da Religião (IOR), o chamado “Banco Vaticano”.
Um programa de televisão italiano chamado “Os Intocáveis” lançou matérias sensacionalistas acusando o IOR de recentemente transferir milhões de euros para bancos no exterior, para evadir os controles italianos, e de se negar a cooperar com vários inquéritos italianos, inclusive uma investigação sobre a morte, em 1982, do financista Roberto Calvi, conhecido como “banqueiro de Deus” por suas próximas ligações com o Vaticano. Citou também um memorando interno do Vaticano que sugere que uma nova lei anti-lavagem de dinheiro decretada por Bento XVI contém uma enorme brecha, tornando suspeitas as transações anteriores a abril de 2011 isentas de exames.
O Vaticano tem negado sismaticamente essas acusações, mas naturalmente incoerências enterraram as suspeitas.
Mais recentemente, um jornal italiano deflagrou outro terremoto ao publicar uma carta anônima, escrita em alemão, que citava o Cardeal italiano Paolo Romeo, de Palermo, sobre um suposto complô para matar Bento XVI dentro de doze meses, e para substitui-lo pelo Cardeal Angelo Scola, de Milão. A carta foi transmitida ao Papa pelo Cardeal colombiano aposentado Darío Castillón Hoyos.
Um porta-voz do Vaticano rechaçou a matéria como “loucura”.
Ainda para constar, os documentos em todos os casos são autênticos. Por ora, o Vaticano reconheceu que as cartas de Viganò, o memorando sobre lavagem de dinheiro, e a carta anônima sobre um complô anti-papal são todos verdadeiros — embora insista que em cada caso os conteúdos são exagerados ou errôneos.
Noutras palavras, o Vaticano está vazando como uma peneira.
Há um intenso debate sobre quem está por trás desses vazamentos, com os jornais italianos apontando para um “espião” dentro do Vaticano.
Parece haver grande consenso sobre a quem culpar pelo estado geral das coisas: o Cardeal italiano Tarcisio Bertone, Secretário de Estado, que seria o “Primeiro Ministro” do Vaticano, a pessoa responsável em fazer os trens chegarem na hora.
Como colocou o comentarista italiano Sandro Magister, a bagunça faz Bertone, 77, parecer “o Primeiro Ministro de um governo que não funciona”.
Na sexta-feira, todos os membros do Colégio de Cardeais se reunirão com o Papa Bento XVI para um “dia de oração e reflexão” antes do consistório. Resta ainda ver se os cardeais aproveitarão a ocasião para enfrentar a verdade nua e crua, pressionando Bento XVI, gentil e respeitosamente, a tomar o controle da situação.
Há três razões pelas quais eles poderiam querer fazê-lo — o que não é, claro, prever que eles o farão.
Primeiro, alguns desses cardeais têm coisas a fazer em casa, e a atual piti no Vaticano não está ajudando. Timothy Dolan, de Nova Iorque, está atualmente envolvido em um cabo de guerra de alto risco com a administração de Obama sobre o seguro de saúde obrigatório. Seria bom se um embaixador papal poderoso e bem articulado estivesse em cena em Washington para ajudar governar essas tensões, mas este, obviamente, não é o caso.
Segundo, a percepção de intrigas obscureceu o que deveria ser um punhado de boas notícias para o Vaticano. Na semana passada, o Vaticano co-patrocinou um encontro sobre a crise de abusos sexuais, chamando a uma resposta global proativa e comprometendo-se com reformas.
Agora mesmo, o pessoal do Vaticano está movendo o céu e a terra para trazer a instituição a uma conformidade com os padrões internacionais de transparência financeira; provavelmente em nenhum outro período da história o Vaticano se comprometeu tão plenamente a cooperar com órgãos reguladores seculares externos. Em um ciclo normal de notícias, estes temas poderiam redefinir as impressões do Vaticano e da Igreja em um tom positivo; no momento, eles estão competindo com, e basicamente perdendo para, histórias de escândalos.
Terceiro, o estrago feito pelos infortúnios do Vaticano é sentido em todo o mundo católico. Quando uma verdadeira bomba explode, o estrago é mais intenso perto da zona da explosão. Quando uma bomba explode em Roma, todavia, aqueles próximos à cena frequentemente não a sentem, mas os católicos de muito longe podem ficar fortemente cicatrizados. Os veteranos do Vaticano frequentemente se movem numa bolha, cercados por subordinados e simpatizantes, isolando-se dos efeitos das impressões públicas negativas. Os católicos que sobrevivem no mundo real não têm tanta sorte. Eles têm de encarar os efeitos colaterais na mídia, entre seus amigos, no cafézinho do trabalho. Colocar as coisas em ordem, portanto, não se trata exclusivamente, ou mesmo principalmente, de ajudar o Papa ou a Santa Sé.
Trata-se de não colocar obstáculos desnecessários no caminho do cidadão comum, que só quer viver sua fé e, talvez, dividi-la com outros.
Na sexta-feira, espera-se que os cardeais falem sobre a “nova evangelização”. Talvez, dar uma olhada mais atenta na confusão do Vaticano poderia ser um ponto de partida.

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